domingo, 6 de setembro de 2009

Pai

Hoje senti saudades de ti Pai, saudades de te ver, de te abraçar. Hoje senti saudades de ti, saudades de te ver sorrir, saudades da tua face e dos teus olhos. Hoje senti saudade de te olhar, saudades da tua voz, senti saudades de te ouvir falar. Hoje senti saudades de ti, de te ver a trabalhar, de te ouvir rir. Pena não te ver envelhecer, ver-te chegar a casa; era uma casa cheia. Hoje olhei-me ao espelho, pensei em ti, no fundo de meus olhos vi saudade, vi-te dentro do meu olhar, fiquei ali à espera de te poder ver. Pedi então a Deus para adormecer, pedi para te ver, ainda que a sonhar. Não pude dormir, Pai, não pude, a saudade foi mais forte do que eu, e pôs-me a chorar.
A minha dor, o meu sofrer, este corpo disperso em pedaços por ti, esse corpo que procuro e não tenho, o teu se ausentou. Sangue escorrendo saudade, lágrimas que gritam teu nome escrito nos céus, porque Deus te chamou e tu, servo fiel, partiste ao seu encontro. Pedaços de mim, dispersos, pedaços de mim, fragmentos do que fui. Um todo que era um quase tudo inteiro e que perdi numa manhã fria de Inverno. Dói muito, só que a vida tem de continuar. É horrível perder um dos pais. Quem não se sente perdido e destroçado quando perde um ente querido? O saber ultrapassar o que se passou é o mais importante neste momento. Quando ouvimos falar daqueles que nos deixaram, deixamos a nu a nossa fragilidade como seres humanos e o coração começa a doer, impedindo-nos de entender outras coisas que podem ser a razão de ser da nossa existência aqui, na Terra. Não é fácil aceitar, mas todos teremos que aceitar, porque todos somos iguais na essência, e nada morre verdadeiramente.

Sara Barreto, 12-01-2009

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